Canais de educação financeira viram febre na internet e extrapolam limites do YouTube


País tem hoje 515 influenciadores dedicados a finanças e investimentos, um salto de 102% entre o primeiro semestre de 2022 e dezembro do ano passado

Atestado por quem cria ou quem consome conteúdo, o interesse por educação financeira, investimentos, empreendedorismo e assuntos afins cresce a cada dia no Brasil. Segundo o último levantamento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o país tem hoje 515 influenciadores dedicados a finanças (um salto de 102% entre o primeiro semestre de 2022 e dezembro do ano passado). Os principais canais do gênero afirmam que a maior parte do público busca conhecimento para sair das dívidas e mudar de vida. O último levantamento do Serasa aponta que o país tem mais de 70 milhões de pessoas endividadas. Por outro lado, há uma fatia considerável com boa base de educação financeira, que deseja aprimorar o conhecimento e entender mais sobre investimentos para aumentar rentabilidade ou realizar sonhos. Com tanta gente interessada, não é surpresa que o mercado ganhe cada vez mais criadores de conteúdo de olho nesse filão.

Em entrevista ao site da Jovem Pan, a especialista de finanças Nathalia Arcuri, CEO e CVO da “Me Poupe!” — e uma das pioneiras em criação de conteúdo em educação financeira — disse que existe um “imenso potencial” para ampliar o número de influenciadores. “Na própria Me Poupe!, estamos desenvolvendo novos especialistas para ampliar a base de conteúdos do nosso ecossistema, trazendo outros ângulos e assuntos dentro do universo das finanças. O professor Mira é o primeiro especialista em renda variável convidado da Me Poupe! e atua conosco desde 2020. Neste ano, trouxemos mais cinco nomes para ampliar a produção de conteúdo do canal: Bruna Andriotto, especialista em renda extra, Mitsuo Ishida, expert em Imposto de Renda, Gustavo Bastos, que trará conteúdos focados em renda fixa e macroeconomia, Hellen Kato, especialista em matemática financeira e metas, e Daiane Hausen, psicóloga comportamental”, contou. No entanto, Acuri alerta que é necessário realizar um trabalho sério e ético. “Tem público com diversos níveis de consciência financeira e que, portanto, busca diferentes tipos de conteúdo. Quanto mais gente falar sobre finanças de maneira simples, fácil de entender e de forma ética, melhor. Fomenta o desenvolvimento e a profissionalização do tema, beneficiando todas as pontas dessa cadeia”, acrescenta.

O Meu Poupe!, canal de Nathalia, nasceu no YouTube em 2015 e foi pioneiro na criação do conceito de entretenimento financeiro. Atualmente, conta com 7,39 milhões de inscritos. O sucesso deixou a plataforma muito pequena para Arcuri. Assim como outros conhecidos no ramo, ela hoje participa de podcasts e já lançou livros que figuram entre os mais vendidos do segmento, como o “Guia Prático Me Poupe! – 33 dias para Mudar sua Vida Financeira” e “Me Poupe! – 10 Passos para Nunca Mais Faltar Dinheiro no seu Bolso”. “Nossa missão é colocar o poder do dinheiro nas mãos de todas as pessoas e fazer com que a metodologia que eu criei e aperfeiçoei nos últimos oito anos esteja disponível para o maior número possível de pessoas. A gente tem uma máxima aqui na Me Poupe!: qualquer mensagem, seja um vídeo, uma foto ou uma frase postada nos nossos canais, precisa devolver ao mundo um indivíduo diferente de quando entrou, mais consciente das próprias escolhas”, explica. “Precisa ter conteúdo de qualidade, informação verificada e com um propósito claro de educação e esclarecimento financeiro. Esse foi o caminho que nós encontramos. Deixando claro que não existe milagre nem enriquecimento instantâneo. Nesse sentido, os criadores de conteúdo precisam ter responsabilidade e ética”, frisa.

Para a especialista em finanças, o cenário econômico do Brasil, com a sinalização de recessão e a alta da taxa de juros, pode motivar a busca de conteúdos sobre educação financeira. Por outro lado, ela também enxerga outra movimentação paralela do mercado para desenvolver novas tecnologias e ferramentas para ajudar as pessoas a gerirem melhor o dinheiro. “É nisso que estamos trabalhando nesse momento. Além de todo o trabalho de educação financeira que realizamos ao longo de oito anos de Me Poupe!, agora somos uma finpactech, ou seja, uma fintech de impacto social. Por isso, nosso foco está na criação de uma nova tecnologia que vai trazer, na prática, e de forma divertida e simplificada, orientações dos melhores caminhos e decisões financeiras a serem tomadas de acordo com o perfil e objetivo de cada pessoa. Queremos ir além da educação financeira, trazendo para a prática a tomada de decisão correta de forma automatizada.”

Arcuri ainda comentou sobre dificuldade que as pessoas têm em aprender sobre empreendedorismo e finanças, o que faz com que muitos desistam antes mesmo de tentar. “Entregar informação isenta e de qualidade, de forma simples e descomplicada, que habilite as pessoas a tomarem decisões mais inteligentes, é extremamente desafiador. É preciso ter bagagem e conhecimento empírico, não apenas técnico. É muito importante ser especialista no assunto, seja de forma autodidata, seja com formação técnica. Afinal, estamos mexendo com a vida e com o dinheiro das pessoas, mesmo que indiretamente. Então, acredito que o que faz as pessoas desistirem de empreender nessa área não é a dificuldade de começar um novo negócio, e sim a falta de capacitação e domínio sobre o assunto. Ter domínio e confiança sobre o tema é o primeiro passo para perseverar nesse mercado.”

Palestras, livros e colunas sociais 

Dono do Jovens de Negócios, um dos principais canais de finanças do Brasil, o empreendedor Breno Perrucho, indicou qual o melhor modelo para quem quer começar em 2023. “Acho que não existe um caminho único. Existem várias formas de você começar a empreender. Por outro lado, algumas facilitam para as pessoas que estão começando. A gente está vivendo em um mundo que, cada vez mais, está demandando inteligência a respeito de redes sociais. Hoje, aquilo que você fala, as coisas que você pensa, o conteúdo que você produz, são indispensáveis para o seu negócio. Vejo que pessoas que estão sofrendo dores, que são fornecidas por agência de marketing, como copyright, gestão de mídias sociais, gestão de tráfego, designer… Isso são coisas que, inevitavelmente, a cada dia que passa, mais empresas estão demandando. Acho que o modelo de uma agência não é muito escalável, mas é um modelo que você tem zero custo para começar. Você pode montar um site que vai mostrar a sua agência, você pode fazer trabalhos de graça para conseguir portfólio… Depois, prospecte seus clientes e mande mensagens para quem você quer se conectar no LinkedIn, Instagram, todas essas coisas”, disse Perrucho ao site da Jovem Pan.

Breno também citou o e-commerce como outra alternativa. “Por outro lado, tem um outro modelo que também é muito barato de começar. Demora um pouco para começar a dar dinheiro. O que acontece é que você vende produtos com ticket mais baixo. Por exemplo, você vai vender um produto pet, cosméticos, que tem até uma boa margem, mas o ticket é baixo. Então para você começar a mudar a sua vida, para ter um faturamento de R$ 20 mil, R$ 30 mil ou R$ 40 mil, você vai ter que ter uma construção ao longo do tempo para realmente garantir que esse vai ser um negócio de sucesso. O melhor modelo para quem está começando agora, de longe, é agência de marketing”, recomenda o influenciador.

Desde que foi fundado, em 2018, o canal de Breno já conquistou mais de 2,3 milhões de inscritos. Além disso, em janeiro de 2020, o jovem consolidou o Jovem de Negócios com uma empresa educacional e vendeu por R$ 1 milhão uma parte para Thiago Nigro, criador do canal O Primo Rico, um dos maiores do nicho. Atualmente, Breno dá palestras sobre empreendedorismo, é requisitado por uma infinidade de podcasts — seu rosto aparece em divesos cortes após uma rápida procura em plataformas como o YouTube — e também já lançou o livro “O Que O Ensino Não Te Ensina”.

Já o socio de Breno não ficou só no mundo das finanças. Thiago Nigro é um dos autores mais vendidos do país — “Do Mil ao Milhão Sem Cortar o Cafezinho está no topo da lista da Amazon há semanas —, mas furou a bolha mesmo com seu relacionamento com a ex-BBB e coach de emagrecimento Maíra Cardi. Já Nathalia Rodrigues, uma das influenciadoras de educação financeira mais populares do Twitter (tem mais de 500 mil seguidores), ficou ainda mais conhecida após discutir com Neymar após as eleições de 2022. “Gente, Neymar na minha DM implorando para ajudar a declarar o Imposto de Renda”, provocou Nath Finanças, como é conhecida na internet. “Como tem gente que gosta de aparecer”, respondeu o jogador. Alvo de piadas após a resposta, Neymar voltou a rebater: “A galera falando que não tenho emocional só porque respondi uma qualquer”.

Do YouTube para a política

O criador de conteúdo de finanças, empresário e político Pablo Marçal também destacou o mundo digital como um dos principais modelos de negócios para poder investir. “O melhor modelo de negócio neste ano é o que você coloca pouco capital intelectual, porque já vem mastigado. Você coloca pouco capital financeiro e pode fazer pequenos testes. Então estou falando de digital. Uma pessoa que simplesmente estuda no fim de semana social mídia, a pessoa pode fazer tráfego pago, a pessoa pode estudar sobre postagens, sobre lançamento… São coisas que dá para aprender muito rápido e que dá para testar muito rápido e crescer nisso. Existe uma variedade de funções. Hoje, por exemplo, tem uma demanda alta de filmaker. O cara usar o próprio celular dele para filmar. A tecnologia tem um ônus muito grande que é acabar com muito emprego, mas também pode criar muitos novos empregos. O que as pessoas precisam perceber é essa mudança. Além dos que falei, tem criador de conteúdo, um mercado que está precisando de mão de obra”, comentou. Marçal é especialista no mercado de investimentos e tem um canal no YouTube com 1,92 milhão de inscritos. O empresário, inclusive, tentou concorrer à Presidência da República nas eleições de 2022. No entanto, sua candidatura foi barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O Pros, partido pelo qual o empreendedor pleiteava a corrida ao Planalto, retirou seu nome da disputa para apoiar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda no primeiro turno, o que deixou o empreendedor indignado.

 





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