‘Até que provem o contrário, ele está vivo’, diz namorada de copiloto do avião que caiu em Ubatuba


Após 10 dias do acidente, a família de José Porfírio de Brito Júnior mantém a esperança de resgatá-lo com vida e mobiliza as redes sociais para encontrar o tripulante

Reprodução / Instagram Thalya VianaA família do copiloto José Porfírio de Brito Júnior iniciou uma campanha pedindo ajuda dos internautas para pressionarem as autoridades

As buscas pelo avião bimotor que caiu na semana passada na região de mar aberto entre Ubatuba, cidade litorânea de São Paulo, e Paraty, no Rio de Janeiro, dominaram as redes sociais nos últimos dias. O motivo é que a família do copiloto José Porfírio de Brito Júnior iniciou uma campanha pedindo ajuda dos internautas para pressionarem as autoridades competentes, como a Marinha Brasileira, para avançarem nas buscas pela aeronave, assim como pelos passageiros. “Vocês não sabem que dor é essa. Antes que comecem a falar que ele está morto, não existe corpo, então meu filho não está morto. Não vou desistir de procurar o meu filho. Não vou desistir, só preciso de ajuda”, disse Ana Regina, mãe do tripulante. Ao longo da semana, ela encabeçou as buscas particulares pelo copiloto e chegou até mesmo a pedir ajuda do presidente Jair Bolsonaro para que as ações de resgate fossem mais eficientes. “Pergunto ao presidente, cadê as Forças Armadas daqui, a Marinha atuando nesse acidente aéreo? Não vejo ninguém da Marinha aqui. Sou uma mãe desesperada que está pedindo ajuda para o meu filho. Eu preciso achar o meu filho”, diz em vídeo. 

O que se sabe sobre o acidente?

O acidente com o avião de prefixo PP-WRS aconteceu na quarta-feira, 24. O bimotor saiu do Aeroporto dos Amarais, em Campinas, às 20h30, com destino ao Aeroporto de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. No entanto, cerca de meia hora depois, o avião teria apresentado uma falha técnica. Segundo o Corpo de Bombeiros, o primeiro contato com as equipes de salvamento foi feito por Ana Regina, mãe do copiloto. Nas redes sociais, a família do tripulante chegou a afirmar que o avião tentou fazer um pouso de emergência “possivelmente nas águas de Ubatuba”, dando início às ações de buscas pela aeronave e pelos sobreviventes. “Avião precisou fazer um pouco de emergência na água, em Paraty. Estamos sem notícias desde as 21 horas, caíram a 15 quilômetros da costa. Tinha ele [José Porfírio], outro piloto e um passageiro”, escreveu Thalya Viana, namorada do tripulante, nas redes sociais, um dia após o desaparecimento da aeronave.

Ainda na semana passada, o Corpo de Bombeiros de São Paulo chegou a divulgar a última localização da aeronave, mas disse que não havia a confirmação de que o avião teria conseguido realizar o pouso de emergência. Ao todo, três pessoas estavam no avião no momento da queda: o copiloto José Porfírio de Brito Júnior, de 20 anos; o piloto Gustavo Calçado Carneiro, de 27 anos, e um passageiro, o empresário e lutador de jiu-jitsu Sérgio Alves Dias Filho. Na sexta-feira, 26, o Instituto Médico Legal (IML) do Rio de Janeiro confirmou, após identificação da família, que o corpo localizado na região era do piloto Gustavo Carneiro. Ao longo das buscas, uma poltrona do avião e uma mochila foram encontradas. À Jovem Pan, Thalya Viana confirmou que a bolsa era de José Porfírio. “A gente pede ajuda para a Marinha, mas eles ignoram a gente. Não sei por que estão colocando essa operação como sigilosa, porque não é uma informação de guerra, não é nada. A gente só precisa saber de uma vida. Eles não passam informação nem para a mãe, nem para ninguém. Até agora a gente não sabe nada do avião.”

Mobilização: Achem o avião!

O desespero e o empenho da família de José Porfírio repercutiram nas redes sociais e ganharam força com a campanha #Achemoavião, onde familiares e amigos pedem ajuda para dar visibilidade ao caso e, com isso, conseguir apoio das autoridades. Ao longo da semana, dezenas de postagens foram compartilhadas com a hashtag, que ficou entre os assuntos mais falados do Brasil na quarta e quinta-feira. “Que desespero esse avião que sumiu em Ubatuba… Achem o avião! As famílias precisam de uma resolução, pelo amor de Deus. Por que não estão dando mais atenção a esse caso? Agonia”, disse a escritora Isabela Freitas no Twitter, cobrando mais ações das autoridades responsáveis. Além da autora do best-seller ‘Não se apega, não’, outros famosos também aderiram à campanha, como a ex-BBB Pocah, o ex-piloto Rubens Barrichello e a funkeira Jojo Todinho, que é amiga da mãe do copiloto.

“Queria pedir às autoridades para dar uma atenção a esse caso, ainda tem gente desaparecida. Quero pedir para vocês ajudarem, porque é a dor de uma mãe, de uma família, amigos”, disse a cantora. No mundo dos esportes, o surfista Pedro Scooby disse ser amigo do empresário Sérgio Alves Dias Filho e pediu que a Marinha use um navio com sonar para ajudar a localizar o avião. “É preciso coisas mais especializadas para continuar a procura. Sei que tem um navio com sonar da Marinha capaz de localizar a aeronave, tem um drone da Aeronáutica com equipamento infravermelho, tem um helicóptero com uma câmera térmica do Grupamento, um órgão do Rio. Gostaria de fazer apelo aos órgãos públicos, para quem puder ajudar.”

As mobilizações surtiram efeito e a Marinha Brasileira, que chegou a desativar os comentários das publicações do Instagram pelas cobranças dos internautas, entrou em contato com a mãe do copiloto. “As buscas permanecem em curso, considerando padrões técnicos, as ações dos ventos, marés e correntes de deriva”, disse em nota. Mesmo com o longo período de buscas, a família do copiloto segue com as mobilizações para encontrar o tripulante. “Nada mudou, minha fé está aqui, firme e forte, firmada em uma rocha”, disse Ana Regina nesta sexta-feira, 3, reforçando os apelos por um navio com sonar para localizar a aeronave. “Eu preciso que esse avião saia do fundo do mar para todo mundo ver que meu filho não está lá dentro”, suplicou. À Jovem Pan, a namorada de José também reforçou a esperança de encontrá-lo com vida. “Nós temos fé e oramos muito a Deus para ele estar em uma ilha. Até que se prove o contrário, ele está vivo”, disse Thalya Viana, que demonstra a crença em publicações nas redes sociais. “Mais um dia de buscas, menos um dia sem você. Não vamos desistir. Vamos te achar, vamos ter você de volta.”

O que é um navio com sonar? 

Um navio com sonar é uma embarcação que “possui equipamentos especiais que podem medir o campo potencial da terra e o campo magnético”, explica o professor Luigi Jovane, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP). Ele afirma, no entanto, que é possível que a Marinha Brasileira não tenha esse tipo de embarcação disponível. “Não sei se eles têm capacidade ou equipamento para águas rasas, porque ali são águas rasas. Eles têm para águas profundas, coisa de sete mil metros de profundidade. Mas para águas rasas precisam de equipamentos que tenham as frequências certas. No momento, os navios maiores da Marinha não estão disponíveis, não sei se a Marinha teria condições de fazer a busca com sonar”, explica o especialista, indicando qual seria o melhor equipamento para ajudar na localização da aeronave. “O melhor método seria o magnetômetro [equipamento que identifica medir a intensidade, direção e sentido de campos magnéticos]. A gente [Instituto Oceanográfico] tem, mas a Marinha não tem.”

Luigi Jovane completa indicando que, além do magnetômetro, o uso de um ecobatímetro multifeixe para águas rasas, que poderia “fotografar” o fundo do oceano, possibilitaria o sucesso nas buscas, o que pode, segundo ele, demorar dias pela extensão da região. Sendo um dos responsáveis por um estudo do mar em Ubatuba, o professor também ressaltou que, embora os equipamentos não ajudem na localização das vítimas, encontrar os destroços da aeronave podem nortear melhor as buscas pelos sobreviventes. No entanto, considerando os dois recentes casos de ataques de tubarão em praias de Ubatuba, Jovane não descarta que os corpos das vítimas possam ter sido comidos. “É provável. Se não for um tubarão, pode ser outro peixe. Tem vários outros tipos de peixes que gostam de carne. Tem carcaças de baleias que ficam no mar e os peixes vão lá e comem”, lamentou. As buscas pelo copiloto José Porfírio e pelo empresário Sérgio Alves chegaram ao 10º dia neste sábado. 





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