Como dissemos na semana passada, o ano de 1982 foi tão rico para a música pop (usado aqui em seu modo mais abrangente) que um só especial não daria conta de demonstrar tamanha riqueza. Neste segundo de uma série que poderá continuar por mais alguns “TBTs”, focamos em cinco grandes momentos do classic rock, enfatizando também o hard rock e o heavy metal em cinco singles que marcaram época e ainda hoje são muito ouvidos. Divirtam-se
Formado por músicos de estúdio de grande habilidade técnica e tarimba, o Toto nunca foi muito benquisto pelos críticos que achavam o som do grupo por demais polido e feito premeditadamente para fazer MUITO sucesso.
Se era esse o caso, não se nega que eles foram muito bem sucedidos. Tome-se como exemplo o quarto álbum deles, chamado simplesmente “IV”, que vendeu três milhões de cópias e ganhou seis Grammys – a piada que se contava é que eles tinham trabalhado em discos de todos os votantes o que tornou a vitória fácil.
“IV” teve outros compactos de sucesso, notadamente “Rosanna“, mas nenhum sobreviveu ao tempo de maneira tão impactante, e surpreendente, quanto “Africa”, que chegou ao topo da parada da Billboard e segue alegrando novos ouvintes a cada ano.
“I Love it Loud” – Kiss
Em 1982, o Kiss não andava bem das pernas. Após atingirem o superestrelato em 1977, a banda começou a perder o fôlego. Nestes cinco anos eles lançaram discos solo, fizeram álbuns em pegada mais pop e até um trabalho conceitual – “The Elder”, um fracasso comercial que, com o tempo, se tornou cult, ao menos para alguns fãs.
A banda também perdeu seu baterista, Peter Criss foi substituído por Eric Carr em 1980,e logo ficaria sem o guitarrista Ace Frehley. O músico aparece na capa de “Creatures Of The Night”, e no clipe de “I Love It Loud”, mas não gravou uma só nota em estúdio.
Gene Simmons e Paul Stanley viram que , se quisessem sobreviver, teriam que mostrar serviço e assim nasceu “Creatures…” o disco mais pesado e direto deles desde o auge na década de 70. Muito bem produzido e com ótimo repertório, o álbum trazia muitas canções creditadas a um tal Vincent Cusano (que, depois soube-se, também tocou guitarra em várias músicas). Logo, com o nome de Vinnie Vincent, ele seria efetivado no quarteto.
Ele é coautor desta música, a mais marcante do trabalho, e que se tornaria um hino do Kiss. Infelizmente, o mercado americano em 1982 era bem diferente daquele de 1976 e o disco foi um fiasco de vendas, não indo além da 45ª posição na parada – pelo menos ele foi melhor que “The Elder”, que ficou em um humilhante 75° posto.
A turnê pelos EUA, a primeira por lá em três anos, também foi pessimamente atendida dando a entender que o futuro para eles não era dos mais brilhantes. Felizmente a história acabou relativamente bem. No ano seguinte eles toparam fazer uyma série de shows no Brasil onde se apresentaram em estádios do tamanho do Maracanã e Morumbi.
Voltando para casa Simmons e Stanley decidiram tirar as famosas maquiagens que sempre os caracterizou e entraram em uma nova fase. Todos os discos posteriores entraram, no mínimo, no top 30 e “Creatures Of The Night” costuma ser visto pelos fãs como o melhor disco que eles fizeram depois de 1977.
“Should I Stay Or Should I Go” – The Clash
Ao contrário dos Sex Pistols, o The Clash conseguiu sobreviver ao furacão punk e se metamorfoseou em uma das bandas mais surpreendentes de seu, e de qualquer, tempo. Em 1982 eles também conseguiram, finalmente, atingir, o mercado norte-americano, com “Combat Rock”, um LP que surpreendeu por sua simplicidade – um disco de “apenas” 45 minutos depois de um álbum duplo e outro triplo.
Foi daqui que saíram os dois maiores sucessos dele na parada da Billboard: a dançante “Rock the Casbah” (número 6) e “Should I Stay…”, com seu riff simples e irresistível que ficou em 13°.
Pouco depois do lançamento do trabalho, Mick Jones foi expulso da banda. Joe Strummer tentou seguir com o grupo, mas logo ficou claro que a química havia desaparecido e o Clash chegou ao seu melancólico fim.
“Should I Stay…”, de qualquer forma se mostrou uma canção de vida longa. Basta dizer que em 1991, ela foi usada em um anúncio da Levi’s e relançada chegando ao primeiro lugar no Reino Unido. Uma posição que eles jamais conquistaram quando estavam na ativa.
“Run To The Hills” – Iron Maiden
Em fevereiro de 1982 o Iron Maiden entrou em uma nova fase que os levaria para o topo do mundo do rock pesado. Com um novo vocalista, Bruce Dickinson e uma ambição sem tamanho, o quinteto liderado por Steve Harris mirou alto e acertou.
O álbum “The Number Of The Beast” se mostrou o artefato perfeito para esa missão ao juntar canções mais complexas de inspiração progressiva, com outras mais diretas, caso da faixa título e de “Run To The Hills“. Esta se tornou um improvável hit single chegando ao sétimo lugar no Reino Unido – enquanto o álbum se tornou o primeiro deles a encabeçar o ranking.
Em outros mercados, incluindo o americano e o brasileiro, a música também abriu portas para os ingleses graças ao seu clipe, simples mas bastante eficaz, que foi bastante exibido na MTV e em programas especializados em clipes.
Em 1982, o Survivor era uma banda do segundo ou terceiro escalão do lado mais comercial do hard rock norte-americano, com dois discos na bagagem que venderam poucas cópias. A vida deles mudou com o terceiro álbum e a inclusão de sua faixa-título na trilha sonora de “Rocky III”.
Com um dos riffs mais reconhecíveis da história, “Eye Of The Tiger” se tornou quase que sinônimo de boxe ou lutas em geral – até no programa do Ratinho era ela que se ouvia quando rolava alguma briga no palco. O compacto passou seis semanas no topo da parada americana e foi o segundo mais vendido no país naquele ano, atrás apenas de “Physical” de Olivia Newton John.
Quanto ao Survivor, a banda perdeu seu vocalista Dave Bickler pouco depois, ele precisou fazer uma cirurgia nas cordas vocais e lançou alguns discos, alguns bem suceidos, mas nada que tenha causado tanto impacto.
Frankie Sullivan, o guitarrista, e coautor de “Eye Of The Tiger”, acabou fazendo jus ao nome da banda e se mostrou um verdadeiro sobrevivente. Graças a ele, o único membro original presente na banda, o Survivor existe.
Fonte: Vagalume