Cultura catari é bem diferente da brasileira é há necessidade de se atentar as regras para evitar cometer alguma imprudência; moradores do país dão dicas para se preparar para curtir a Copa sem transtorno
A partir do dia 20 de novembro, o Catar vai ser o centro das atenções. Afinal, é lá que será realizada a Copa do Mundo 2022. Esse país, considerado um emirado, ou seja, governado por um emir, só conquistou sua independência de 1971 e é formado por estrangeiros – cerca de 90% da população veio de outra parte do mundo. Ele chama atenção pela tradição e modernidade. Pelas ruas, é possível encontrar de gravuras rupestres neolíticas a arranha-céus modernistas inspirados no antigo design islâmico. Esse pequeno país peninsular árabe, que tem aproximadamente 12 mil km², possui um pouco mais de 2,9 milhões de habitantes, abrange um deserto árido e um longo litoral no Golfo Pérsico, repleto de praias e dunas. Espera-se que mais de um milhão de turistas ingressem no Catar nos próximos dias para acompanhar o maior torneio de futebol. Contudo, quem está de viagem marcada precisa se atentar aos costumes locais, pois tudo será monitorado de perto, inclusive a entrada no país. Desde o dia 1º de novembro, apenas pessoas que possuem ingressos para uma partida estão autorizadas a entrar. Cada uma pode estar acompanhada por um máximo de três convidados e devem pagar uma “taxa de inscrição”, que equivale ao visto de 500 rials cataris (US$ 140), exceto no caso de crianças menores de 12 anos. Essa medida só é válida para a fase de grupos. A partir de 2 de dezembro, não será mais necessário ter um ingresso para entrar no país. No entanto, ainda será obrigatório se registrar online para obter um cartão Hayya, que tem a função de visto.
A cultura do Catar é bem diferente das que estamos acostumados. Por isso, é necessário uma certa preparação dos turistas que estão indo para região, que vão desde as restrições para consumo de álcool, sexualidade, código de vestimenta e comportamento. Bruna Bardavid, 35 anos, empresária no ramo do turismo e criadora de conteúdo digital, mora no Catar há seis anos. Ela relata que não teve tanta dificuldade em se adaptara a cultura e que, apesar dos costumes diferentes, o povo catari é hospitaleiro e adora o Brasil. “O Catar é um dos países mais seguros do mundo e poder viver em um país assim é o que mais me faz gostar daqui, além, claro, de toda modernidade e da educação que posso proporcionar aos meus filhos”, explica. Ela usa as redes sociais para ajudar pessoas que estão indo para o país a se adaptarem as tradições e dá dicas de locais para visitar, além de acompanhar os turistas em passeios pelo país. Para Bardavid, o país tem como ponto positivo “a modernidade em pleno desenvolvimento, segurança e muita oportunidade”. Em contrapartida, a empresária afirma que as altas temperaturas e o alto custo de vida, principalmente em relação ao aluguel e alimentação, são aspectos negativos.
O administrador Cesar Robles, 24 anos, sabe bem a dificuldade em estar em um país com alto custo de vida. No Catar há nove meses, ele conta que foi difícil encontrar lugar para morar logo que chegou. “Tudo é bem caro e ficou muito pior por conta da Copa. Muitas pessoas vierem apenas para trabalhar no evento, fazendo com que a procura nos últimos meses fosse muito maior do que estavam acostumados no país”. Diferente de Bruna, ele não teve a mesma facilidade para se adaptar aos costumes do país e diz que morar no Catar é um desafio diário, porque a cultura e o estilo de vida são totalmente diferentes do que os brasileiros estão acostumados. “Tem muitas regras que não estamos acostumados a vivenciar, como roupa que devemos usar, principalmente para as mulheres, mas também para homens tem algumas restrições de vestimenta”, conta. “A cultura deles é muito baseada na religião. Demorei alguns meses para me adaptar a essas novas regras, principalmente porque não estava trabalhando quando cheguei aqui, mas depois que consegui um emprego e passei a ter contato diário com os locais, a adaptação foi mais rápida; passei a entender mais como eles vivem por aqui”, acrescenta. Ele também defende que a segurança é um dos principais pontos positivos do país. “São pouquíssimos os casos de problemas com questão de segurança no país. Podemos andar sem medo de ser roubado, podemos deixar o carro aberto na rua”, resume. Cesar também reclama das altas temperaturas que fazem na região. “No verão, chegamos a ter temperatura com sensação de mais de 60 graus e com uma umidade altíssima. Não da para sair na rua nem de madrugada, que tem temperatura de mais de 40 graus”.
O que pode e não pode fazer no Catar?
Muito tem se falado sobre as restrições que estarão vigentes no Catar, como a proibição do consumo de álcool, demonstração de afeto em público e até mesmo os cuidados ao tirar fotos – fotografar prédios governamentais, pessoas ou mesquitas é proibido e o ato pode ocasionar em uma abordagem policial. Contudo, as restrições não são tantas. “Algumas questões culturais que são diferentes das nossas brasileiras chamam a atenção, como, por exemplo, a vestimenta”, explica Bruna, acrescentando que “o estrangeiro não é obrigado a usar abaya (feminino) ou o thobe (masculino), mas deve se vestir de forma discreta, respeitando a cultura local”. Para isso, ela aconselha “evitar usar roupas curtas ou decotadas que deixem o colo à mostra, e transparências ou roupas reveladoras, especialmente se for visitar mesquitas e prédios do governo”. A empresária adianta que há possibilidade de usar biquíni e roupas mais a vontade e decotadas, porém, apenas dentro dos hotéis internacionais.
“Os turistas podem fazer de tudo, desde que sigam as regras do país. Dentro dos hotéis, eles têm mais liberdade para beber fora de casa e fazer outras coisas que são proibidas no país”, explica Cesar. Dentre as restrições no Catar, estão: consumo de carne de porco e bebidas alcoólicas, beijar em público, mulheres não podem mostrar o ombro e, em muitos lugares, homens e mulheres não podem entrar de bermuda. Por outro lado, existem várias coisas a serem feitas no Catar, como aproveitar os restaurantes badalados, a pubs e os eventos, além dos cinemas de última geração e diversos parques. “Tem lazer para todos os gostos e bolsos”, diz Bruna. Cesar, que mora em Doha, dá dicas do que fazer durante o dia e a noite. “Pela manhã, podemos ir para parques e praias que têm na cidade, visitar os museus e os pontos turísticos que são muitos. Já a noite, para quem é turista e maior de 21 anos, indico hotéis internacionais, que são os lugares onde tem os melhores restaurantes e pode beber sem problema, além de poder aproveitar as festas que geralmente acontecem por lá”, complementa.
Assim como todo país, o Catar tem pontos que são paradas obrigatórias. Para Bruna, todo mundo que está indo para a Copa do Mundo precisa visitar o Souq Waqif, que ela classifica como “um mercado muito tradicional e um dos principais pontos turísticos do país. Esse é o passeio mais imperdível, na minha opinião”, aponta. Cesar lista outros destinos que não podem ser deixados de lado durante o tempo que estiver no país. São eles: Gold Souq (mercado só de ouros), visita ao deserto, isa a Sealine e Coriniche – são as praias mais distantes –, conhecer os museus, ir ao bairro West Bay, onde ficam os prédios diferentes, e passar na livraria nacional.
Costumes, tradições e curiosidades
Apesar de pequeno, o Catar é uma caixinha de surpresa. Esse país é dependente da exploração de petróleo e gás natural, que, juntos, correspondem a 50% do Produto Interno Bruto do emirado. Sua semana de trabalho é de domingo a quinta-feira, com a maioria dos escritórios fechados às sextas e sábados, e o horário de funcionamento do governo é das 7h às 14h, conforme as informações da Qatar Tourism. Seu clima é desértico, com sol o ano todo, sendo os verões quentes, com temperatura próximas aos 45ºC, e invernos amenos, quando os termômetros variam de 17ºC a 36ºC. A chuva é pouco frequente, caindo em aguaceiros breves, principalmente no inverno. Sua língua oficial é o árabe, mas o inglês é amplamente falado. A religião oficial é o islamismo, e os seguidores de outras religiões gozam de total liberdade de culto.
Esse foi um dos pontos de mais chamou atenção do administrador Cesar. “O costume que é mais diferente para mim é a quantidade de vezes que os cataris param para rezar. Eles devem rezar cinco vezes por dia e em cada uma toca uma música em todas as mesquitas chamando os religiosos para a reza”, conta. Ele também relata que “em todos os lugares têm uma sala de reza, com tapetes e a posição correta que eles devem estar para fazer. Muitas vezes tem pessoas em parques ou até mesmo na calcada que param para fazer sua reza”. Já Bruna, conta que o que mais despertou sua atenção ao se mudar para o país sede da Copa foi o fato deles contarem com um hospital veterinário só para falcões. Isso é em decorrência de um dos esportes mais tradicionais do país, a falcoaria. Ela conta que nesse hospital eles fazem até transplante de pena.
Relações sexuais fora do casamento são proibidas em teoria, mas os serviços de saúde não perguntarão às mulheres que precisam de tratamento médico se são casadas ou não, até mesmo se estiverem grávidas. As embaixadas recomendam que as vítimas de agressão sexual entrem em contato com os serviços consulares perante as autoridades. Apesar das leis que criminalizam os relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo, o site do cartão Hayya garante que não há “restrições” que impeçam “casais não casados de sexos diferentes ou casais (incluindo LGBTQ+) de se hospedarem no mesmo quarto”. A FIFA insiste que as bandeiras do arco-íris são bem-vindas nos estádios, mas o Catar pede cautela do lado de fora.
Por que é proibido beber no Catar?
Uma das restrições que mais tem impactado é a “proibição” ao consumo de bebidas alcoólicas. Mas, na verdade, não é bem assim. Dá para beber, porém, de forma regulada. O consumo de álcool é legal para não-muçulmanos com mais de 21 anos, mas é estritamente regulamentado e não se pode comprar em qualquer lugar, existem espaços específicos e há necessidade de possuir uma carteirinha e fazer agendamento para compra as bebidas para levar para casa. Os moradores podem comprar em uma loja autorizada, mas os visitantes não. Turistas só vão poder beber nos hotéis internacionais, onde uma cerveja ou um copo de vinho pode custar cerca de dez dólares e um coquetel mais de quinze, e nas barracas de venda de cerveja da FIFA que abrirão no entorno dos estádios três horas antes do início das partidas e fecharão trinta minutos antes do início desses jogos. Elas vão reabrir durante uma hora após o apito final. Na principal fan zone da FIFA, o consumo de álcool só será possível após as 18h30 (12h30 horário de brasília). Nas outras fan zones (algumas pagas), as regras variam. As drogas também são ilegais.