De Yoko Ono a Motörhead: Red Hot Chili Peppers e todas as referências da letra de “Poster Child”


Anthony Kiedis, do Red Hot Chili Peppers
Foto via Shutterstock

O Red Hot Chili Peppers lançou nesta sexta-feira (4) mais uma prévia de seu aguardado novo disco Unlimited Love.

“Poster Child” chegou com a sonoridade clássica dos Peppers, apostando forte no Funk Rock e na pegada cheia de groove de John Frusciante na guitarra para criar uma atmosfera que qualquer fã da banda reconhece instantaneamente.

A faixa, que também ganhou um clipe em animação totalmente psicodélico, ainda vem chamando muita atenção por outro motivo: sua letra.

Red Hot Chili Peppers e a letra de “Poster Child”

Isso vem acontecendo por conta das inúmeras referências à cultura Pop e a ícones da música de forma geral que estão presentes na letra assinada por Anthony Kiedis, citando nomes como Yoko Ono, Ramones e até Motörhead.

Abaixo, você confere cada uma das referências em questão e do que elas falam!

Melle Mel and Richard Hell were dancing at the Taco Bell

Melle Mel é um ícone do Hip Hop, conhecido por ter sido vocalista do Grandmaster Flash and the Furios Five. Já Richard Hell é um ícone do Punk, que foi parte de bandas como Neon Boys, Television e Richard Hell & the Voidoids. Já o Taco Bell, claro, é uma grande franquia de comida mexicana presente em vários locais do mundo.

When someone heard a rebel yell, I think it was an infidel

Aqui, a referência está no termo “Rebel Yell”, que remete à música de mesmo nome lançada por Billy Idol em 1983. É possível também que o uso de “infidel” seja uma ode ao disco Infidels, lançado por Bob Dylan no mesmo ano.

Adam Ant and Robert Plant were center of a sycophant

Adam Ant é mais um ícone do Punk citado na canção, tendo ganhado fama por seu trabalho com o Adam and the Ants nos anos 80. Já Robert Plant, claro, é o vocalista do Led Zeppelin.

Used to buy Ulysses Grant to record at the Record Plant

Ulysses Grant foi o 18º presidente dos Estados Unidos e está estampado na nota de 50 dólares que circula até hoje. O Record Plant é um famoso estúdio, estabelecido em Nova York em 1968 e movido para a Califórnia subsequentemente.

Islamabad is on the nod, Havana at the riot squad

Islamabad é a capital do Paquistão, atacada diversas vezes nos últimos anos por radicais do islamismo, algo que os Peppers parecem não aprovar uma vez que o termo “on the nod” é usado geralmente para se referir a alguém que está sob efeito de heroína. Por outro lado, eles parecem simpatizar com o povo de Havana, insinuando que aqueles que pedem a queda do regime comunista estão sendo reprimidos.

You got the best of my Yoko, I’ll take the rest of your low note

Aqui, Kiedis faz referência a Yoko Ono em meio ao refrão.

Parliament’s Atomic Dog that hats were filling up a fog / We talk about the life and death of everything in analog

Citando a “morte” da tecnologia analógica (como por exemplo os discos de vinil), os Peppers referenciam a música “Atomic Dog”, lançada pelo lendário George Clinton como parte do coletivo Parliament-Funkadelic em 1982.

The seventies were such a win, singing the Led Zeppelin

Kiedis usa o Led Zeppelin como exemplo para exaltar o quanto os anos 70 foram bons.

Lizzy lookin’ mighty thin, the Thompsons had another twin

Mais uma vez, duas referências em uma frase só que remetem a artistas dos anos 70. Ao falar de “Lizzy lookin’ mighty thin”, Anthony está se referindo à banda Thin Lizzy, um ícone do Rock daquela época, enquanto “the Thompsons had another twin” é uma referência ao Thompson Twins, grupo Pop da mesma década.

Ramones had a lobotomy, so spin me like a pottery

Além da referência óbvia ao nome dos Ramones, a frase “had a lobotomy” é uma brincadeira com o título do clássico “Teenage Lobotomy”, lançado em 1977.

I will be your poster child

Aqui, o tema central da música: a ideia de “poster child” é bastante comum nos EUA para se referir a uma “criança modelo”. No contexto, claro, Anthony está fazendo referência à idolatria de músicos, muitas vezes colocados em pôsteres para serem “louvados” e tratados como uma referência de perfeição, assim como as “poster childs”.

A funky piece, the Sandinista, me and minor Mona Lisa

Novamente, além da referência óbvia à Mona Lisa, a frase cita o Exército Popular Sandinista, um movimento de guerrilha ligado à extrema esquerda da Nicarágua — também nos anos 70.

Judas Priest has whipped the beast, the mother love was named Teresa

Aproveitando a referência ao catolicismo do nome do Judas Priest, o RHCP cita a banda britânica de Heavy Metal e emenda uma conexão com a Madre Teresa, ícone religioso. No contexto, a frase “whipped the beast” parece dizer que a banda de Rob Halford — vocalista que é gay declarado — foi capaz de “chicotear a besta” dos dogmas católicos, ou seja, subverter crenças cristãs, se tornando uma “poster child” de contracultura totalmente oposta à Madre Teresa, uma “poster child” religiosa.

Bubble gum, I come bazooka, dirty danda nana-looka

Apesar de confuso, o verso parece fazer uma referência ao chiclete (“bubble gum”, em inglês) Bazooka, também popular em décadas anteriores, especialmente nos EUA.

Bernie Mac and Caddyshack were dusty as the bric-a-brac

Aqui, novamente Anthony opõe dois extremos de “poster childs”: enquanto Bernie Mac foi um dos primeiros grandes comediantes negros dos EUA, o filme Caddyshack ganhou fama nos anos 80 com um elenco completamente branco.

Steve Miller and Duran Duran, the Joker dancing in the sand

Dois ícones da música, Steve Miller e Duran Duran são citados na mesma frase com pequenas aspas de músicas famosas de suas carreiras. “The Joker” é o título de um hit de Miller lançado em 1973, enquanto “dancing in the sand” é um trecho do hit “Rio”, lançado pelo Duran Duran em 1982.

Van Morrison, the Astral man, the festival of hurricanes

A primeira parte da frase referencia o artista Van Morrison através de um apelido relacionado ao seu disco Astral Weeks, lançado em 1968. Já a segunda parte é, provavelmente, uma memória dos Peppers: em 2005, eles tocaram junto com Van Morrison em um show/festival para arrecadar fundos por conta da destruição causada pelo Furacão (“hurricane”) Katrina nos EUA.

Speak of Chico and the Man, the silence of a certain lamb

Sem dúvidas uma das frases mais legais da música! Chico and the Man é uma sitcom norte-americana dos anos 70 e é citada literalmente por ali, assim como é bem provável pegar a referência a O Silêncio dos Inocentes (The Silence of the Lambs), filme famoso por contar a história de Hannibal Lecter.

O grande detalhe aqui, como citado pelo Genius, é que Chico também é uma língua nativa dos Maidu, povo índigena do Norte da Califórnia. O idioma hoje está extinto e em grande parte isso é considerado culpa do Genocídio Californiano no século 19, que exterminou vários indígenas e colaborou muito para a morte da língua.

Somando-se a isso a ligação de Kiedis com essa cultura — o vocalista é descendente do povo nativo dos EUA —, não é difícil entender que a frase, basicamente, está dizendo que os inocentes (Maidu) foram silenciados pelo povo opressor e perderam sua língua ao tempo.

MC5 kick out the jam, a poncho full of contraband

Voltamos ao Punk com uma referência ao MC5, um dos grupos pioneiros do gênero, e ao clássico “Kick Out the Jams”.

Dairy Queen was on the scene of every preteen magazine

Mais uma referência à cultura Pop, citando a franquia de restaurantes de fast food Dairy Queen, também bastante conhecida em décadas passadas.

The Motörhead and mystic queen, I must’ve needed Valvoline

Aqui, Anthony expõe um pouquinho de suas… preferências. Fazendo um paralelo com sua paixão pela música e pela lendária banda Motörhead, o vocalista aponta a existência de uma “mystic queen” (“rainha mística”), que funcionaria como uma espécie de musa inspiradora a ponto de que ele deve ter precisado de “Valvoline” — uma marca de óleo lubrificante para motores. Deixamos você ligar os pontinhos nessa aí!

Creem magazine, A Love Supreme, the ballad of a Billie Jean

Três de uma vez: além de citar “Billie Jean”, grande hit de Michael Jackson, aqui os Peppers fazem referência à revista Creem (uma publicação mensal sobre música que circulou entre 1969 e 1989) e ao lendário disco A Love Supreme, de John Coltrane.

And now we know the Status Quo, but God would never save the Queen

Novamente, mais de uma referência na mesma frase: Status Quo foi uma icônica banda de Hard Rock britânica, marcada por ter aparecido no programa Top of the Pops mais vezes do que qualquer outro artista. Já, “God would never save the Queen” é, muito provavelmente, uma brincadeira com o hit “God Save the Queen”, dos Sex Pistols, aproveitando para protestar contra a monarquia.

David Mushegain, Copenhagen, copper goose of Ronald Reagan

Precisamos confessar que o termo Copenhagen não nos despertou nenhuma memória, então conte pra gente se souber como ele se encaixa! Os outros nomes, no entanto, são bem claros: David Mushegain é o autor do livro Fandemonium, lançado em 2014 sobre os Peppers e com a autorização dos músicos.

Ronald Reagan, por sua vez, é o ex-astro de Hollywood que virou presidente dos EUA. É apenas uma conjectura, mas pode ser que ao falar sobre “copper goose” (“cisne de cobre”, um enfeite comum em escritórios), Kiedis pode estar referenciando indiretamente o ex-presidente Donald Trump, que seguiu um caminho parecido ao de Reagan e é visto por muitos como uma versão piorada do antecessor.

Dollar savers, Flavor Flav, the cosmic moves are power saving

Outra referência simples, dessa vez a Flavor Flav, o lendário hypeman do Public Enemy. O grupo de Hip Hop tem uma longa relação com os Peppers, sendo citados como influência em diversas ocasiões.

Chubby Checker do the twist, and everyone’s a narcissist

Aqui, a referência é mais antiga! Kiedis menciona Chubby Checker, o autor da icônica música “Let’s Twist Again” que virou febre mundial ao ser lançada em 1961 e iniciou todo um movimento de dança.

A fatty for the natty dread, a pocket full of talking heads

Entramos na última estrofe com uma frase cheia de detalhes. Primeiro, precisamos estabelecer que “fatty” é usado como gíria para um cigarro de maconha, e isso já está intimamente ligado à segunda parte da frase — afinal de contas, Natty Dread é um disco lançado por Bob Marley em 1974.

Em seguida, mais um trocadilho, dessa vez com o nome da banda Talking Heads. Ao falar que tem um “pocket full of talking heads”, é como se Anthony estivesse dizendo que está com o “bolso cheio de falador”. Faz algum sentido, né?

M.I.A.’s making paper planes, addiction to the days of Jane’s

Além de contrastar artistas negros e brancos como vem fazendo em vários dos versos, o RHCP também usa essa frase para opor duas épocas bastante diferentes (e igualmente icônicas, pelo visto, para eles).

A primeira parte do verso faz referência à música “Paper Planes”, lançada por M.I.A. em 2007; já a segunda parte relembra o Jane’s Addiction, banda contemporânea dos Peppers que se tornou ícone do Rock Alternativo.

My stuff is made of purple rain, ten fingers in the lion’s mane

“Lion’s mane” se traduz para “juba do leão”, então o que Anthony está dizendo aqui é basicamente que ele vai se arriscar e colocar “dez dedos na juba do leão” porque o seu “negócio” é feito de “Purple Rain” — uma referência, claro, à música de Prince e também ao pioneirismo do artista, que quebrou várias barreiras.

Giant squid, Karate Kid, Sid Vicious in the Katie-did

Aqui também somos obrigados a admitir que não entendemos completamente a simbologia por trás do “giant squid” (“lula-gigante”, em português), mas o resto da frase é mais uma referência bem complexa para além da simples citação de Karate Kid, muito provavelmente pela rima.

O trecho “Sid Vicious in the Katie-did” muito provavelmente está falando sobre o baixista do Sex Pistols e sua característica de usar roupas transgressoras, que não estavam necessariamente ligadas ao estereótipo do sexo masculino. Isso porque o termo “Katie-did” é, acreditamos, uma referência à marca britânica de lingerie “What Katie Did”, fundada em 1999 mas com uma coleção que remete aos anos 50.

Por coincidência (ou uma outra possibilidade de interpretação, quem sabe?!), há uma música lançada pelo The Libertines em 2003 que também leva o nome “What Katie Did”.





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