Inflação sobe 0,9% em novembro e acumulado em 12 meses vai a 10,7%, o maior índice em 18 anos


IPCA perde fôlego ante alta de 1,25% em outubro; energia elétrica e combustíveis novamente lideram a variação de preços

Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) perdeu força em novembro ao registrar alta de 0,95%, ante avanço de 1,25% em outubro, segundo dados divulgados nesta sexta-feira, 10, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É a maior variação para o mês desde 2015, quando registrou alta de 1,01%. O resultado, puxado novamente pela alta dos combustíveis e da energia elétrica, leva o indicador oficial da inflação doméstica a 10,74% no acumulado de 12 meses, o maior índice desde novembro de 2003, quando foi a 11,02%. O índice de novembro veio acima dos 10,67% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. No ano, o IPCA soma alta de 9,26%. Em novembro de 2020, a inflação registrou avanço 0,89%. Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), visto como a inflação dos mais pobres, avançou 0,84%, contra 1,16% em outubro. O indicador, que é usado como referência para reajustes do salário mínimo e benefícios do INSS, acumula, no ano, alta de 9,36%, e em 12 meses, de 10,96%, abaixo dos 11,08% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em novembro de 2020, a taxa foi de 0,95%.

Sete dos nove itens pesquisados pelo IBGE registraram alta em novembro. O avanço da inflação foi puxado pelo segmento de transportes (3,35%), influenciado pelos preços dos combustíveis, principalmente, da gasolina (7,38%), que teve, mais uma vez, o maior impacto individual no índice do mês. Etanol (10,53%), óleo diesel (7,48%) e gás veicular (4,30%) também registraram variações para cima. Com o resultado de novembro, a gasolina acumula, em 12 meses, alta de 50,78%, o etanol de 69,40% e o diesel, 49,56%. Já as passagens aéreas recuaram 6,12% em novembro, após as altas de 28,19% em setembro e 33,86% em outubro. O setor de habitação subiu 1,03%, o segundo com maior peso no IPCA do mês passado. O resultado ficou próximo da alta de 1,04% de outubro. Novamente, o segmento foi liderado pelo encarecimento da energia elétrica (1,24%). O preço do botijão de gás também foi destaque, com alta de 2,12%. O resultado faz o item acumular alta de 38,88% em 12 meses. “Além da bandeira tarifária da Escassez Hídrica, que acrescenta R$ 14,20 na conta de luz a cada 100 kWh consumidos, em vigor desde setembro, houve reajustes nas tarifas em Goiânia, Brasília e São Paulo. Em Belém e Porto Alegre o recuo decorreu da redução da alíquota de PIS/Cofins”, afirma o gerente do IPCA, Pedro Kislanov.

O segmento de alimentação e bebidas, um dos principais vilões do IPCA em 2020, teve recuo de 0,04% em novembro, reflexo da queda de 0,25% na alimentação fora do domicílio. Houve quedas ainda mais intensas no leite longa vida (-4,83%), no arroz (-3,58%) e nas carnes (-1,38%). Por outro lado, houve altas expressivas nos preços da cebola (16,34%) e do café moído (6,87%). Outros subitens, como o açúcar refinado (3,23%), o frango em pedaços (2,24%) e o queijo (1,39%) seguem em alta. Também influenciou a desaceleração do índice em novembro o grupo saúde e cuidados pessoais (-0,57%). “A Black Friday ajuda a explicar a queda tanto no lanche quanto nos itens de higiene pessoal. Nós observamos várias promoções de lanches, principalmente nas redes de fast food no período. E no caso dos itens de higiene pessoal, várias marcas nacionais deram descontos nos preços dos produtos em novembro. No Brasil, diferente de outros países, os descontos não são centrados em um único dia. Os descontos acabam sendo dados ao longo do mês”, explica Pedro Kislanov.

A aceleração da inflação em 2021 é puxada principalmente pela variação de preços administrados, como a energia elétrica e os combustíveis, fenômeno também observado em outras partes do mundo em meio ao processo de recuperação da economia global pós-crise da Covid-19. O IPCA também é pressionado pela desvalorização do real ante o dólar, a falta de insumo e matérias-primas na indústria e os rescaldos da crise hídrica que assolou o país em 2021. O mercado financeiro projeta que a inflação doméstica encerre o ano em 9,33%, segundo previsão do Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira, 8. Na semana passada, a estimativa apontava para alta de 9,17%. A constante revisão para a variação de preços deste ano já contaminou as expectativas de 2022. Para o ano que vem, a mediana da pesquisa feita pelo Banco Central aponta inflação a 4,63%, ante 4,55% na edição da semana passada. A autoridade monetária persegue a meta de 3,50% em 2022, com piso de 2% e teto de 5%.

A aceleração da inflação é puxada principalmente pela variação de preços administrados, como a energia elétrica e os combustíveis, em meio ao quadro de forte desvalorização do real ante o dólar, alta no preço das commodities e crise hídrica. O mercado financeiro projeta que o IPCA encerre o ano em 10,18%, segundo previsão do Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira, 6. O índice é praticamente o dobro do teto da meta perseguida pelo Banco Central (BC) neste ano, de 5,25%, com centro de 3,75% e piso de 2,25%. A perseverança e força do indicador contaminou as expectativas para 2022. Para o ano que vem, analistas do mercado financeiro esperam que o IPCA vá a 5,02%, também acima do teto da meta de 5%, com centro de 3,50% e piso de 2%.

No esforço de trazer a inflação para a meta no próximo ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) voltou a subir, nesta quarta-feira, 8, a taxa básica de juros da economia brasileira, passando a Selic de 7,75% para 9,25% ao ano. A segunda alta de 1,5 ponto percentual já era esperada pelos analistas em meio à deterioração das expectativas inflacionárias. Em nota, o BC sinalizou nova alta de mesma intensidade no encontro agendado para 1º e 2 de fevereiro de 2022,  jogando a Selic para 10,75% ao ano. O mercado estima que o movimento de alta deve se manter até que a taxa chegue a 11,25% ao fim do primeiro trimestre, e estabilize neste patamar. Para 2023, os analistas estimam o início de uma nova temporada de cortes, trazendo os juros para 8%, enquanto para 2024 a taxa deve ser reduzida para 7% ao ano. A aceleração dos juros deve impactar negativamente na recuperação da economia no ano que vem por encarecer a tomada de crédito e impactar na redução dos investimentos.





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