Porta dos Fundos zomba de valores cristãos; será que alguém acha graça em ver Jesus e Deus num prostíbulo?


Quando um humorista torna-se um picareta, tentando lacrar em cima de dogmas e crenças que não compreende, é ele que vira motivo de chacota

Reprodução/Porta dos FundosEspecial de Natal do Porta dos Fundos deste ano é uma animação que mostra Jesus se divertindo em um prostíbulo

Todo fim de ano é a mesma coisa. O canal de humor Porta dos Fundos bota no ar um especial de Natal em que zomba de valores cristãos. No ano retrasado, fizeram um Cristo gay que teria um affair com satanás. Neste ano, tem Jesus jovem num prostíbulo junto com Deus. O próximo passo, naturalmente, seria Cristo num filme pornô, com tendências à zoofilia, talvez? Alguém sinceramente acha alguma graça? Eles mesmos acham graça? Não é exatamente humor o que fazem, assim como outros ativistas anticristãos travestidos de humoristas fazem, se entendemos humor como uma maneira de rir da natureza humana, de nossas pretensões, certezas que se revelam clichês. Não é humor se o entendemos como maneira de nos aproximarmos uns dos outros através do riso, de nossas falhas e pretensões em comum.

O ex-canal de humor Porta dos Fundos quer chocar cristãos apenas. Estabelecer uma sexualidade animalesca justamente no cristianismo — que preza por uma afetividade humana, que conjuga e incorpora o corpo como algo que possa ser ponte para elevar o espírito — é simplesmente uma provocação barata e sem graça. Uma redução pueril da humilde tentativa de contenção dos instintos mais primitivos para uma possibilidade de amor mais aprofundado por outra pessoa. Por outras pessoas. Pelo mundo todo. A provocação do Porta segue um itinerário de provocações infantis que tem como pressuposto o enfrentamento progressista do poder conservador. O cristianismo seria um símbolo máximo deste poder. Ora, o amor é um símbolo cristão de poder conservador.

Um casamento é o amálgama entre corpos e espíritos que se amam, querem se amar e constroem este amor por toda a possibilidade da eternidade. A família, sobretudo a família humana, em geral incorpora toda e cada pessoa que deve ser acolhida por cada um de nós. Cada necessitado é um Cristo que bate à nossa porta. Esta a base do conservadorismo cristão. Daí zombam dos símbolos místicos deste amor. Progressivamente. Progressistamente. Assim é como quando fazem uma Nossa Senhora barbada ou pintada com esterco de elefante ou quando movimentos inserem crucifixos em genitálias ou coisas do tipo. O poder cristão é opressor, segundo eles. Ora, o cristianismo ensina o valor da compaixão, da liberdade, do acolhimento ao diferente, inclusive da misericórdia a quem nos apedreja. O poder do cristianismo é o de perdoar. Inclusive, perdoar artistas medíocres que não percebem que o cristianismo reside na força do amor — inclusive o amor a seus inimigos, que, pela cegueira (também a cegueira moral), apedrejam, debocham daquilo que não entendem (e que é tão simples): amar ao próximo como a si mesmo.

A ignorância do Porta dos Fundos e de todos os eventuais humoristas e ativistas que caricaturam o cristianismo é a confusão entre a religião em si e pessoas que eventualmente deturpam a religião e a usam de maneira a beneficiar fins egoístas; è uma confusão que também confunde a crítica necessária a quem deturpa um movimento, uma religião, uma crença e acaba confundindo humor com ataque gratuito sem nenhuma graça a um princípio que fundou e conserva toda a base do humanismo da civilização ocidental como a que conhecemos hoje. Quem usa o nome de Deus indevidamente não se confunde com o próprio Deus cristão ou o próprio Cristo, que são reduzidos a figuras patéticas pelo Porta e outros tantos ativistas sócio-políticos sem graça.

Não há, claro, necessidade de censurar quem critica um elemento místico de alguma religião. O questionamento é: qual a razão de se atacar frontalmente a religião que mais ensinou o valor do amor, da liberdade e do respeito ao próximo em todas as suas dimensões e que fundou todo o humanismo como o entendemos? O poder da compaixão, do afeto, da misericórdia incendeiam tanto menosprezo assim do Porta dos Fundos e de tantos outros ativistas e humoristas mundo afora? Assim como pastores que usam indevidamente o nome de Deus devem ser mostrados, criticados e zombados, o Porta deve ser apontado por seu oportunismo em não perceber o que é humor ou o que é o poder de fato. O humor mais refinado se alimenta da percepção da realidade pra tirar graça da miséria humana projetada por picaretas. Quando um humorista torna-se ele mesmo picareta, tentando lacrar em cima de dogmas e crenças que não compreende, é ele que vira motivo de chacota. O humor inteligente se vira contra o humor do sem graça, que simplesmente troca o talento e a sofisticação de uma análise subversiva por tentar crucificar quem não compreende, assim como não compreenderam e crucificaram Cristo em sua época.

Cristo crucificado em abraço congelado por aqueles que o torturaram é o que ama, acolhe e perdoa seus assassinos. Tentam assassiná-lo ainda hoje. Por quê? Para quê? Por que ele ensinou o amor incondicional, mesmo a seus algozes e àqueles que dele zombavam, como faz o Porta dos Fundos e tantos outros? Quem usa, abusa, mancha indevidamente o nome de Cristo em vão não se confunde com o que Cristo pregou. Quem ri do martírio e tortura de alguém que se imolou pela humanidade não está exercendo humor. Está se orgulhando, sem nenhuma graça, de sua própria ignorância. E quem é ignorante não tem senso de humor. Não presta para humorista. Tampouco tem senso do ridículo, como o ex-canal de humor, que, por razões políticas e ideológicas, que aprisionam o sentido da vida, criam progressivamente a falta de graça, a falta de talento, a falta de senso crítico da falta de competência e profundidade em que caíram.

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*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.





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