TMDQA! Entrevista: Daniel Kessler (Interpol) fala sobre vinda para o Primavera Sound, novo disco e 20 anos de “Turn On the Bright Lights”


Interpol
Foto por Ebru Yildiz

Um dos maiores nomes do Indie e Alternativo no mundo, o Interpol está prestes a desembarcar no Brasil para seus aguardados shows, que acontecerão tanto no festival Primavera Sound como em conjunto com o Arctic Monkeys em apresentações solo.

Na bagagem, o grupo formado atualmente por Paul Banks, Daniel Kessler Sam Fogarino traz grandes clássicos e também um recente lançamento — o ótimo The Other Side of Make-Believe, que chegou em Julho deste ano e entra tranquilamente em uma lista dos melhores trabalhos da banda.

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O Interpol chega por aqui também no ano em que o icônico Turn On the Bright Lights comemora 20 anos de existência e influência, já que inspirou inúmeros outros artistas da época a renovarem sua sonoridade com sua mistura única de Post-Punk, Indie e Alternativo.

Com tanto a mostrar, a banda não poderia estar mais empolgada para vir ao Brasil e, claro, o sentimento é mútuo com os fãs brasileiros e nós nos incluímos nisso. Portanto, conversamos com Daniel Kessler para saber um pouco mais sobre tudo que vem por aí.

Confira a seguir na íntegra! O Interpol se apresenta no Brasil nos dias 04/11 (Rio de Janeiro) e 08/11 (Curitiba) em shows solo com o Arctic Monkeys (ingressos aqui) e no dia 05/11 em São Paulo como parte do Primavera Sound (ingressos aqui).

TMDQA! Entrevista Daniel Kessler (Interpol)

TMDQA!: Oi, Daniel! Que prazer falar com você. Tudo certo por aí?

Daniel Kessler: Olá! Eu estou bem, e você? O prazer é meu.

TMDQA!: Tudo certo por aqui também. Queria começar falando um pouco sobre o novo disco, que pra mim é o que soa mais novo em muito tempo quando falamos do Interpol. Obviamente, digo isso como um elogio. O que você sente que levou vocês a explorarem essa sonoridade diferente?

Daniel: Ah, primeiramente, muito obrigado. Eu sinto que, como uma banda de forma geral, nós estamos sempre tentando evoluir e progredir. Nós definitivamente não somos uma banda. [risos] A gente nunca tenta fazer discos porque é hora de fazer discos. Nós fazemos discos porque precisamos fazê-los, porque nós temos ideias. A gente nunca fica sem ideias, mas eu não sei, ao mesmo tempo eu sinto que nós estamos fazendo isso há algum tempo, então você vai progredindo na sua arte e nas suas habilidades.

Eu acho que os meus colegas de banda também têm melhorado e evoluído e se tornado ainda melhores artistas por si só, o que é incrível de observar. Mas aí, sabe, eu sinto que é simplesmente o lugar onde estamos agora, e eu caho que ter algumas formas diferentes de escrever música — pra mim, ter um piano por exemplo, ou algo novo para explorar meio que dá um tom diferente. Mas eu também acho que nós precisamos nos sentir muito engajados e sentir que estamos tirando algo disso emocionalmente.

Acho que nós fizemos isso com essas composições, e até na gravação desse disco. Acho que esse é um capítulo muito, muito bom do Interpol.

TMDQA!: É engraçado que você fala isso de nunca fazer um disco por obrigação, mas olhar a linha do tempo do Interpol é curioso porque meio que vocês lançam um novo a cada quatro anos. Parece intencional, mas não é, né? E agora veio algo que obrigou vocês a quebrar o ciclo, que foi essa pandemia. Como essa quebra de ciclo afetou?

Daniel: O engraçado é que mesmo com esse disco, acabaram sendo quatro anos, né? [risos] Porque nós finalizamos a turnê em Novembro de 2019. Então naquele momento, quando nós terminamos a turnê, depois de ir pra todo lugar e passar tanto tempo viajando, nós retomamos as nossas vidas, só no sentido de, tipo, dormir nas nossas próprias camas. E aí, pra mim, quando eu volto pra casa, é nesses momentos que eu costumo procurar o que está ali; eu fico ligado em possibilidades de novas músicas e coisas do tipo.

Então tem meio que uma linha de demarcação clara sim, entre o último período de composições ee esse de agora. E naquele momento em que as ideias começaram a surgir, pelo fato de termos terminado a turnê apenas alguns meses antes de toda a pandemia e o lockdown, acabou que isso não interrompeu tanto a nossa programação em comparação a alguns de nossos amigos e colegas.

Eu estava só compondo e aí quando ficou claro que seria mais problemático, ou impossível, eu diria, de fazer o que normalmente fazemos que é estar na mesma sala, eu começar a tocar as músicas nas quais eu vinha trabalhando, e aí nós internalizarmos aquilo e fazer algumas músicas juntos… nós não teríamos essa oportunidade. Então, eu acho que tivemos um desafio tão grande, como todas as outras pessoas tiveram, mas a gente nunca tinha trocado ideias digitalmente, remotamente antes. Mas era o único jeito de escrever música, era o que tínhamos que fazer.

Então, de algum jeito esquisito, meio que deu o tom de fazer algo um pouco diferente. Eu meio que mandava todas as demos nas quais eu estava trabalhando, e o Paul teve que cantar um pouco mais baixo porque a namorada dele estava no quarto do lado, e também tinha os vizinhos, e isso traz uma grande diferença com relação a cantar por cima de um kit de bateria e de uma guitarra em um ensaio, que acabava criando uma certa diferença só pelo formato em si. E, além disso, o Sam tinha tempo de trabalhar na batida da bateria separadamente, e mandar essas ideias.

Só aconteceu, e eu não sabia se iria funcionar, porque você nunca sabe essas coisas quando está fazendo algo novo. A gente não sabia se teria a mesma química sem estar na mesma sala. Mas a verdade é que tínhamos sim, mesmo separadamente, e depois de um tempo ficou bastante óbvio que isso estava funcionando bem. Isso, pra mim, foi tipo; eu estava na Espanha por uma parte desse período, e eu recebi as ideias que o Paul e o Sam estavam trabalhando, e eu ouvia nos meus fones de ouvido enquanto andava pela cidade. E era como se fossem alguns pequenos presentes, era sempre como se fosse uma afirmação do motivo pelo qual ainda somos uma banda.

Eu só sentia como se fosse algo muito gratificante, e me lembrou de alguns momentos na história do Interpol onde eu meio que saía de um ensaio realmente muito bom, onde uma nova ideia tinha surgido e você nem sabia como. Foi um ângulo diferente e muito empolgante para as músicas, que simplesmente foram se formando. Foi assim e, de uma forma esquisita, parecia que depois de alguns meses fazendo isso a sensação era de que funcionaria muito bem.

E aí nós tivemos a oportunidade de tocar juntos sob o mesmo teto, logo antes de fazer o disco em si. Só ensaiamos e trabalhamos nas músicas, e foi insano! Foi realmente um momento de, tipo, ser grato pelas coisas. Você começa a apreciar todo o tempo que você teve junto com essas pessoas.

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TMDQA!: Que demais. E de fato funcionou bem demais. Queria falar um pouco também sobre o Primavera Sound, já que vocês estarão na edição de estreia do Brasil mas já tocaram em algumas outras edições do festival. Fiquei pensando, você sabe descrever como é estar em um Primavera Sound? Eu nunca fui em um!

Daniel: É um festival maravilhoso! É como se fosse um festival dos artistas. Eu sinto que ele é um daqueles festivais que cresceram muito ao longo dos anos e, sabe, desde o seu surgimento original em Barcelona, mas é um daqueles lugares para os artistas, e acho que para os fãs também, que as pessoas se empolgam bastante para ir e têm uma visão de ser algo diferente dos outros festivais. Obviamente, há ótimos festivais por aí, mas eu acho que o Primavera ocupa um espaço que ninguém mais ocupa, e você nem precisa saber quem está tocando para ir. Você se empolga só de ir lá para ter a experiência, que é ótima.

Há algo naquele festival de Barcelona que é muito, muito especial. E eu acho que é algo que traz algo para os fãs, é algo realmente divertido e especial. E, como eu disse, eu acho que a questão principal é que é como se fosse uma “feira”, um lugar onde tanto os fãs quanto os artistas ficam ansiosos para ir porque é algo realmente especial de curtir.

TMDQA!: E é engraçado porque nas últimas vezes que vocês vieram ao Brasil, sempre foi para festivais. Mas da última vez, no Lollapalooza, vocês acabaram sendo uma atração de “meio de cartaz”, enquanto agora vocês entram como praticamente headliners no Primavera. Quão especial vai ser esse show, ainda mais considerando tudo isso que você falou do festival e lembrando desses shows anteriores no Brasil?

Daniel: É empolgante, é bem empolgante! É um prazer e um privilégio ser convidado para a primeira edição. Tem muitas bandas boas tocando e eu estou bem empolgado pelas pessoas do Primavera, que estão expandindo de Barcelona para vários outros lugares.

E, sabe, de forma geral, toda vez que nós tocamos no Brasil… a gente ama tocar tipo São Paulo de forma geral. Sempre são plateias incríveis no Brasil. E é sempre, tipo, a gente sempre sente muito amor dos fãs e das pessoas simplesmente mostrando que estão muito felizes por estarmos de volta. E nós realmente apreciamos isso porque são memórias.

Eu tenho ótimas memórias do Brasil, até de quando nós tocamos no Lollapalooza na última vez, ver o pequeno coletivo de fãs gritando “Interpol, Interpol, Interpol”. [risos] Eu acho que isso diz muito sobre os fãs brasileiros.

TMDQA!: Eu estava lá! Foi bom demais mesmo. Falando nisso, qual é a sua memória preferida do Brasil? Vocês já vieram pra cá tantas vezes!

Daniel: É, realmente já fomos bastante! Em relação a algo preferido, isso é bem difícil de dizer. Até porque vai além de simplesmente tocarmos aí, é sempre tipo… sabe, é longe de onde eu moro, então sempre que eu tenho a oportunidade de visitar o Brasil de forma geral é ótimo. E obviamente, eu só vi um pedaço muito, muito pequeno dele, e você sempre quer absorver tudo.

Mas, pra mim, é tudo sobre as pessoas. As pessoas que eu conheci, a minha experiência pessoal nas cidades que visitamos e tudo mais, só o dia-a-dia mesmo, eu realmente amo isso, sempre. Mas aí tem a plateia. Eu acho que os fãs do Interpol são realmente maravilhosos, eles nos apoiam demais.

Então sempre tem essa energia que a gente sente aí que é muito única, e não é o tipo de lugar que você pode ir e simplesmente fazer mais um show. É um lugar que te acorda, que faz você se sentir muito vivo e faz você apreciar todo o tempo que está tocando; se você tocar por 60 minutos, cada um desses minutos você vai estar muito presente e feliz por estar ali.

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TMDQA!: Tem algo que você ainda não fez por aqui que realmente gostaria de fazer?

Daniel: No Brasil? Tanta coisa! Eu acho até meio estranho dizer que eu conheço o Brasil, porque eu tenho a humildade de saber que só fui para uma ou outra cidade, o que é um pedaço minúsculo porque eu sei que é um país gigantesco com tanto a oferecer e tão vasto culturalmente, de todas as formas possíveis. Inclusive geograficamente, tantas paisagens, sabe, por todo lugar.

Nós vamos pro Rio de Janeiro pela primeira vez em muito tempo, então vai ser legal fazer um show lá. Mas eu amo voltar pra São Paulo, e eu tenho alguns amigos que moram lá. É bem legal poder ver os amigos e ter essa comunidade por aí.

TMDQA!: Justo! Uma das atrações do Primavera, que inclusive vai estar nos shows solo com vocês também, é o Arctic Monkeys. Isso vai ser legal demais, hein!

Daniel: Demais! Eles são uma banda incrível, com um catálogo sensacional nesse ponto da carreira. E é curioso porque eu conheço esses caras desde o primeiro disco deles, e nós só tocamos juntos tipo uma vez; eu acho que só fizemos um show conjunto com eles antes, um ou dois, e foi há uns 10 anos na França. E aí tocamos em alguns festivais juntos. Então é sempre divertido fazer uns shows conjuntos. Estou empolgado!

TMDQA!: Que massa. Voltando pro Interpol, eu queria falar um pouco sobre o Turn On the Bright Lights, que já está fazendo 20 anos em 2022. É um disco tão importante e que tem um papel fundamental nessa cena alternativa, né. Como você reflete sobre esse disco tanto tempo depois e sobre essas duas décadas desde então?

Daniel: Tem tanta coisa a dizer! Primeiramente, é muito gratificante que as pessoas enxerguem esse disco dessa forma. É algo muito especial pra nós, e eu amo tocar as músicas desse disco. E a outra coisa é que é realmente, sem querer ser clichê mas já sendo, parece que foi ontem que estávamos tocando a nossa primeira turnê. E nós falamos sobre isso o tempo todo, pequenas memórias disso, porque a primeira vez que você faz algo é sempre uma experiência marcante, sabe?

A primeira vez que você come algo que você ama, você nunca vai esquecer. Ou a primeira vez que você vê um filme, você nunca vai esquecer, ou qualquer coisa assim. Então, eu sinto isso com a nossa primeira vez em turnê, o primeiro lançamento de disco, e todas essas memórias estão muito frescas e são muito especiais, e você está tão alerta a tudo e é tão especial.

E é realmente uma loucura que 20 anos depois as pessoas enxerguem esse disco assim. Eu estou muito feliz que 20 anos depois eu ainda amo esse disco. Eu tenho muito orgulho desse disco, eu amo tocar as músicas desse disco, eu nunca gostaria de ser de uma banda que não gosta de tocar as músicas de um certo disco, qualquer que seja. Eu amo todos os nossos discos e eu amo tocar músicas de todos os nossos discos.

Eu acho que, inclusive, quando estávamos fazendo o Turn On the Bright Lights, eu não conseguia ver além de fazer aquele disco. Mas eu queria que esse disco fosse pra sempre, eu realmente queria isso. Eu queria que ele fosse atemporal. Eu me lembro que essas foram as minhas palavras, que o disco fosse atemporal, que ele não envelhecesse mal. Queria que você algo que, tempos depois, eu pudesse olhar e pensar, “Eu fico feliz por ter feito esse disco”. E eu me sinto assim sobre ele, então isso é muito especial.

TMDQA!: Todos nós sentimos isso! Daniel, muito obrigado pelo seu tempo. Nos vemos em breve!

Daniel: Muito obrigado! Nos vemos no Brasil.

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