Modelo importado custa R$ 5 milhões enquanto o novo produto brasileiro pode sair por apenas R$ 200 mil; universidade espera receber patrocínio e apoio da iniciativa privada para adquirir o certificado mundial
USP desenvolve simulador de voo mais barato que os utilizados no mercadoO departamento de engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo (USP), desenvolveu um simulador de voo com preço muito mais acessível em relação ao mercado internacional. O professor Jorge Henrique Bidinotto ressalta que o modelo importado custa R$ 5 milhões e o produzido na USP saiu por R$ 200 mil. “A gente projetou principalmente a parte de movimento da plataforma, então a gente tem uma plataforma com seis graus de liberdade de movimento, que é chamado de plataforma de Stuart, que é a mesma tecnologia utilizado em simuladores ao redor do mundo só em um custo muito mais elevado. A parte da cabine é basicamente peças comerciais e o software é também comercial. O que a gente desenvolveu de fato é a plataforma de movimento. Essa tecnologia é totalmente desenvolvida dentro da USP, usando pouquissimos componentes importados, a grande maioria são peças nacionais”, explicou.
A tecnologia mais barata poderia beneficiar a aviação brasileira e também países mais pobres para garantir mais segurança ao setor, diante dos altos custos envolvidos. Hoje, o Canadá, os Estados Unidos e França dominam o mercado de simuladores de voo. Para se tornar um produto conhecido no mercado, o modelo nacional precisa da certificação mundial. Bidinotto explica que a USP de São Carlos não poderá pagar algo em torno de R$ 1 milhão. “A gente já tem um grande ganho, porque isso permitiu que a gente fizesse as nossas pesquisas na área de fatores humanos em aviação, mas o nosso ideal é que, realmente, alguém se interesse em transformar isso em um produto e, nós estamos totalmente à disposição, se a iniciativa privada tiver interesse em conversar com a gente a esse respeito”, afirma o professor.
Com 37 anos de aviação, 16.500 horas de voo, o comandante Nelson Ouro conta que passou por três emergências reais ao longo da carreira. O piloto lembra que a formação tem etapas teóricas, práticas, uma contínua manutenção das condições físicas e psicológicas e o profissional tem que passar por três exames anuais. “Quando você aprende a voar, você aprende coisas básicas sobre o voo da aeronave. Quando você sai da escola, você vai aprender a voar determinados tipos específicos de avião. Então, você vai fazer o curso do boeing, do airbus, enfim, de qualquer aeronave que você for voar, o simulador se encaixa nesse processo de aprendizado, porque ele dá condições de aprender coisas que não há como aprender no avião. Exemplo: não dá para fazer o motor do avião pegar fogo para saber como é”, diz o comandante.
Nelson Ouro reforça que o simulador inicialmente ensina a voar, manobras, procedimentos e padrões operacionais fundamentais, para que o aviador possa dividir a cabine com outros profissionais desconhecidos e é obrigatório entendimento muito rápido e claro. “O simulador é o local onde o aviador aprende a voar a aeronave em emergência ou situações anormais. Esse aprendizado é fundamental. Ele é extremamente necessário. É o aprendizado que você recebe para nunca ter que usar. É como ter um seguro de carro. Você não quer usar, você não deseja essa situação, mas se houver é bom que você tenha. Então, o simulador é fundamental para o aviador ter essa visão clara do que acontece quando a aeronave tem um problema, um defeito”, diz. Dados do centro de investigação e prevenção de acidentes aeronáuticos da Força Aérea brasileira apontam que dos 1.210 acidentes na aviação civil nacional registrados entre 2010 e 2019, 30,7% tiveram fatores humanos em suas causas.
*Com informações do repórter Marcelo Mattos
















